quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É preciso olhar de perto, e com atenção.


O que estava errado no quadro à frente passava despercebido aos olhos desatentos, mas aos olhos atentos, minuciosos, a desconcertante posição do senhor que olhava indiferente para tudo, causava estranheza.
Ele já fora satisfeito em algum tempo, mas há tempos não confraternizava com tal sentimento. Talvez o problema estivesse em seus olhos, sempre tão distantes, ou no olfato já acostumado com o ar de sempre, ou o paladar que desaprendeu sobre degustação.
Era dono de tudo: uma casa aconchegante com um canteiro florido, uma fonte de água límpida. E as mais diversas frutas ao alcance das mãos, ali mesmo em seu quintal.
Tinha a brisa suave, mas não permitia que o ar lhe enchesse os pulmões.
Bebia da água mais pura, mas não se refrescava.
Mordia a fruta, mas esquecia de sentir o gosto.
O teto ruiu.
O canteiro morreu.
Deixou a fonte secar.
Descontente, abandonou o que tinha e partiu.
Ansiava por desbravar novos terrenos, respirar novos ares e vislumbrar o verde além das fronteiras.
Assim foi feito. Visitou novos espaços, tomou da água de outra fonte, mordeu a fruta de outro pomar, cheirou o aroma de outras flores. Mas não se satisfez da água que bebeu, da fruta que comeu e do cheiro que sentiu. A água dali era impura, o gosto insosso e o cheiro inodoro.Sentiu falta do lar.
Retornou, mas o que encontrou naquele canto que outrora fora desvalorizado foi a terra reabitada por um camponês cuidadoso que remontou o teto, irrigou as plantas, arou o campo, desfrutou os sabores, reviveu a fonte e plantou girassóis.

Nenhum comentário: