O que
estava errado no quadro à frente passava despercebido aos olhos desatentos, mas
aos olhos atentos, minuciosos, a desconcertante posição do senhor que olhava
indiferente para tudo, causava estranheza.
Ele já
fora satisfeito em algum tempo, mas há tempos não confraternizava com tal
sentimento. Talvez o problema estivesse em seus olhos, sempre tão distantes, ou
no olfato já acostumado com o ar de sempre, ou o paladar que desaprendeu sobre
degustação.
Era dono
de tudo: uma casa aconchegante com um canteiro florido, uma fonte de água
límpida. E as mais diversas frutas ao alcance das mãos, ali mesmo em seu
quintal.
Tinha a
brisa suave, mas não permitia que o ar lhe enchesse os pulmões.
Bebia da
água mais pura, mas não se refrescava.
Mordia a
fruta, mas esquecia de sentir o gosto.
O teto
ruiu.
O canteiro
morreu.
Deixou a
fonte secar.
Descontente,
abandonou o que tinha e partiu.
Ansiava
por desbravar novos terrenos, respirar novos ares e vislumbrar o verde além das
fronteiras.
Assim foi
feito. Visitou novos espaços, tomou da água de outra fonte, mordeu a fruta de
outro pomar, cheirou o aroma de outras flores. Mas não se satisfez da água que
bebeu, da fruta que comeu e do cheiro que sentiu. A água dali era impura, o
gosto insosso e o cheiro inodoro.Sentiu falta do lar.
Retornou,
mas o que encontrou naquele canto que outrora fora desvalorizado foi a terra
reabitada por um camponês cuidadoso que remontou o teto, irrigou as plantas, arou
o campo, desfrutou os sabores, reviveu a fonte e plantou girassóis.
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