sexta-feira, 19 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

quarta-feira, 5 de junho de 2013


Senta ao meu lado, e deixa que meus pensamentos se percam nessa fumaça que te envolve, me deixa inalar essa neblina que te cerca até que eles se fundam a ela, e não sobre mais nada. Deixe que eu deite minha cabeça em seu colo, e que o peso do meu corpo se concentre nos outros membros. Faz assim, fica em silêncio, só me deixa falar:
Não sei por quanto tempo provei do seu leite, mas tenho consciência das suas noites mal dormidas enquanto embalava a minha insônia constante, e recordo de quando você me ensinou a não temer o escuro, e não temer a mim mesmo, a não me aguar: "Chore se precisar".
Perdão se me fecho em silêncios, se meu abraço anda frouxo e o brilho apagado, mas continuo com fome de teu afeto, sua comida e de seu cheiro de cigarro.
Vê mãe? Vê como cresci? Não tanto quanto eu gostaria, mas eu serei grande, mãe. Serei sim. O mundo me mudou, mas eu ainda me lembro das tranças do seu cabelo e do gosto do seu café.
Lembra mãe? Dos primeiros passos, do andar de bicicleta e do dente que caiu? E das crises, dos medos, da linha tênue e corda bamba? Dos asteroides que colidem? E das faíscas que nos fizeram ressurgir? Amigos, irmãos, mãe-filho, filho e mãe?
Não foi fácil, e às vezes não é, mas veja: devemos nos orgulhar por termos encontrado um jeito de darmos certo. Todo o choro ao telefone, declarações silenciosas, promessas para o futuro e o mergulho no mundo do outro. Você está aí, e me ergue pelas mãos. E como admiro sua força de mil homens e mil mulheres, e me sinto mais confiante por orientar o meu passo.
Eu te amei e ainda te amo, mãe. Lembra?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um ensaio sobre nós.





Adentro aquele cômodo um tanto quanto apreensivo. No retorno para casa resolvi organizar os meus pensamentos e formular a melhor maneira de lhe falar sobre isso, sobre tudo isso. Respiro fundo.
O que eu temo afinal?
Largo a mochila pesada sobre a cama, sento ao seu lado em frente ao espelho, enquanto aliso minhas têmporas.
A ideia do que eu faria a seguir me parecera um tanto estúpida, mas no momento eu necessitava do desabafo, e falar sozinho me parecera a maneira de exorcizar os meus fantasmas.
- Eu devo estar enlouquecendo – Rio sem humor, enquanto analiso o meu reflexo. Os anos haviam passado mais depressa do que notara. Meu corpo havia se alongado um pouco, minha feição havia se tornado um tanto quanto madura, mas meu rosto ainda permanecia escasso de pêlos. Me parece que fora ontem em que lhe conheci, e que de súbito havia me encantado. Começo a falar de maneira desorganizada, antes de me dar conta de realmente o fazer.
- Não consigo ler suas mensagens, se é que são suas. Não por falta de interesse, mas o fato do destinatário ser desconhecido – Explico, e olho para o celular em minhas mãos, um tanto quanto decepcionado. - Me pergunto sobre o conteúdo delas, e se faria diferença em meu estado atual. Essa história de anonimato anda me corroendo, sabe? Desde as primeiras ligações. Sei que não faz por mal, mas sua falta de atitude, de palavras diretas, e o fato de agir como se nada estar acontecendo, me parece um tanto cruel.
Não espero uma resposta, é claro.
Olho para o espelho e são os seus olhos que vejo refletir. Olhos castanhos. Cansados e misteriosos.
- O que aconteceu com nós? O que aconteceu com você?
- Desde quando precisa se esconder de mim? Aquele que se mostrou por completo para você? Que lhe confidenciou segredos, e que mostrou o mais vergonhoso do próprio ser? Acredito que já lhe tenha dado provas suficientes de que pode confiar em mim, sem medo, pois nunca tive a real intenção de te machucar.
Me assusta ver que aquele desabafo já não era uma conversa solitária, mas sim com você. Era o seu rosto, o seu cheiro, a sua voz (ainda que muda) que estavam ali comigo.
- Por Deus, como ainda gosto de você! – Desvio o olhar por um instante, como atingido em cheio por aquela verdade incontestável. – Como queria, mesmo que só por um minuto, você sem reservas, sem temores. Que falasse com clareza sobre tudo o que sente, e me resgatasse dessa confusão.
- O que você teme afinal?
E eu temo que essas palavras nunca cheguem, que morram engasgadas na garganta, como tantas outras não ditas. E chego à conclusão de que meias verdades, e meias palavras nunca serão o suficiente para mim. E que talvez, o seu silêncio fosse o sepultamento para aquele sentimento, que não alcançou a primavera para florescer.
- Eu ainda penso em você. Lembro de nós. Lembro de tudo, não com dor, mas saudade. Saudade do tempo em que falávamos sobre nossos sonhos, os medos, os planos. Saudade de perder o sono enquanto passava as madrugadas conversando contigo, e que te ver sorrir me causava arrepios. Lembro e sinto uma saudade bonita, diferente da saudade desesperadora que sentia antigamente. Eu amadureci, já não tenho necessidade de você, mas o quero por perto, pelo simples fato de saber que é você que ocupa os meus desejos mais secretos. Não tão secretos agora. Agora, já consciente de que éramos imaturos demais para tudo o que acontecera, e que o fato de ter acontecido nos tornara mais fortes para o momento do hoje. – E suspiro pesadamente ao notar as nossas mudanças estampadas no físico, e mais além.
- Como você cresceu e está forte! Já não precisa de mim para dizer-lhe que tudo ficará bem, ou oferecer meu colo em qualquer momento em que precisar. – Me sinto tomado por um orgulho imenso, e uma felicidade contagiante, embora ainda nostálgico. -Tornou-se tão dono de si! Mas ainda noto seus olhos inquietos, como antes, e isso me faz ver que por mais diferentes e distantes que estamos, ainda resta nossas essências ali. Nossos olhos que não mentem.
- Confesso que ainda penso no “e se”, e me deixo imaginar como seria os dias se estivesse contigo até aqui. O que mudaria? Eu acredito que seria mais leve, mas não mais forte do que sou.
- Eu sinto sua falta em cada célula do meu corpo, mas não quero ser tomado pela saudade para sempre. Eu preciso que você tome uma atitude, e em breve. Estou decidido a seguir em frente de uma vez, sendo contigo ou não. Então eu peço que confie mais em mim e em si, e que me fale sobre esse mundo que traz aí dentro. – Ainda olho atentamente seus olhos refletidos no espelho, e eles me parecem mais vivos.
Chega, preciso dormir! Já havia chegado ao meu limite com aquele ensaio sobre uma conversa que talvez nunca iria acontecer.
Analisei o meu corpo mais uma vez, demoradamente na região da face, vi que não havia resquício de dor em meu reflexo, e que meus olhos não marejaram com meu ato de loucura.
- Estou mais forte. – Assenti orgulhoso por não mais prender o choro e aguar o bom do amor.
Despeço-me com um aceno de cabeça, sonolento pelo dia de trabalho, mas o ouço murmurar antes de pegar no sono:
- Que as corujas zelem o seu sono, meu beija-flor.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


- Esse cheiro... – Disse respirando fundo, com o olhar um tanto distante. Passavam de carro por uma estrada cercada de árvores e matos, e algumas casas simples aqui e ali. 
- Cheiro? Cheiro de merda de vaca? – O outro riu, sempre aproveitando das oportunidades para tirar sarro.
- Não, digo, é. Mais que isso: Cheiro de férias.
- Férias? – Indagou com aquele mesmo tom de deboche que adotara desde que se conheceram - Você precisava mesmo tirar uma folga, hein?
- Sim, de férias e de subir em árvores e colher fruta madura no pé. Cheiro de acordar cedo e ouvir os pássaros cantar, cheiro de tomar café com broa rindo dos desenhos da TV; cheiro de rasgar as roupas nos arames farpados e correr com os cachorros de pés descalços na areia. – Constatou um tanto saudoso. Rindo de si.
- Para mim continua com cheiro de merda, e só.

Pele que precisa de arrepio pra saber o que é sentir; que aprende no tato, no ato. Que não se prende aos fatos. Pele que grita. Pele que não se fecha como os olhos, ou que emudece como os lábios. Pele que exala perfume, que tem gosto, queima, muda de cor, que transpira, que inspira, pele sensível ao toque, que não conjuga o verbo mentir.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É preciso olhar de perto, e com atenção.


O que estava errado no quadro à frente passava despercebido aos olhos desatentos, mas aos olhos atentos, minuciosos, a desconcertante posição do senhor que olhava indiferente para tudo, causava estranheza.
Ele já fora satisfeito em algum tempo, mas há tempos não confraternizava com tal sentimento. Talvez o problema estivesse em seus olhos, sempre tão distantes, ou no olfato já acostumado com o ar de sempre, ou o paladar que desaprendeu sobre degustação.
Era dono de tudo: uma casa aconchegante com um canteiro florido, uma fonte de água límpida. E as mais diversas frutas ao alcance das mãos, ali mesmo em seu quintal.
Tinha a brisa suave, mas não permitia que o ar lhe enchesse os pulmões.
Bebia da água mais pura, mas não se refrescava.
Mordia a fruta, mas esquecia de sentir o gosto.
O teto ruiu.
O canteiro morreu.
Deixou a fonte secar.
Descontente, abandonou o que tinha e partiu.
Ansiava por desbravar novos terrenos, respirar novos ares e vislumbrar o verde além das fronteiras.
Assim foi feito. Visitou novos espaços, tomou da água de outra fonte, mordeu a fruta de outro pomar, cheirou o aroma de outras flores. Mas não se satisfez da água que bebeu, da fruta que comeu e do cheiro que sentiu. A água dali era impura, o gosto insosso e o cheiro inodoro.Sentiu falta do lar.
Retornou, mas o que encontrou naquele canto que outrora fora desvalorizado foi a terra reabitada por um camponês cuidadoso que remontou o teto, irrigou as plantas, arou o campo, desfrutou os sabores, reviveu a fonte e plantou girassóis.